" Minha primeira vez no BIG BIKER "
1a etapa - Itanhandu / MG - 28/03/10
Depois de muita espera e ansiedade, eis que
finalmente chegou o grande dia. O evento é grandioso, foram mais de
1000 participantes. Nos reunimos na praça principal, tiramos as já
tradicionais fotos e também encontramos com muitos conhecidos.
Fizemos a vistoria nas bikes e aguardamos pelo
início da prova, foram momentos de grande expectativa, estava
extremamente tenso e ansioso, pois afinal de contas seria minha
primeira vez, de tão nervoso cheguei até a esquecer das luvas, sorte
que o Renato deu uma força e foi no carro buscá - las para mim, não
via a hora de começar a pedalar, era muita gente, cheguei até ficar
um pouco preocupado com a possibilidade de alguma colisão durante a
largada.
O locutor iniciou a contagem regressiva, foi dada a
largada, a galera disparou, a partir daí meu stress e ansiedade se
dissiparam completamente, pedalei muito e tentei na medida do
possível acompanhar a Alexa. Minha estratégia se mostrou acertada e
chegou a funcionar até mais ou menos a metade do percurso. Pouco
depois de sairmos do perímetro urbano já enfrentamos um enorme subidão,
para mim foi cansativo visto que o meu motor custa para esquentar,
mas, "não tão devagar" e sempre acabei por chegar no alto da serra.
Fiquei feliz porque na minha santa ingenuidade (não me preocupei em
ver a altimetria...Ainda bem !!! ) eu pensava que aquele subidão já
era a serra do palmital, achei que após esse subidão tudo seria mais
fácil, mas estava redondamente enganado. Essa primeira serra não
passava de uma simples e pequena amostra do que ainda estava por vir.
Segui em frente e passei por belos lugares , vi paisagens lindas e
também fiz um downhill delicioso , também foi muito interessante ver
aquele grande número bikers, ao longe a abaixo subindo a serra,
parecia até uma procissão, mas infelizmente não tirei fotos, pois era
competição e parar para fotografar comprometeria meu desempenho, além
da máquina fotográfica ser um peso a mais.
O trajeto foi excepcional, muito bem dividido em
vários tipos de terreno e estradas, tivemos estradões de terra,
estradinhas , trechos que eram praticamente single tracks com subidões
e downhills em meio ao capim. Também tivemos trechos no asfalto, um
descidão uma delícia. Além do trajeto ser muito bem dividido, também
devo acrescentar que o apoio foi excelente, tivemos vários pontos de
água e também um ponto de apoio no qual serviam isotônico, nesse
cheguei a tomar 4 copos , valeu a pena repetir pois a medida que o
tempo passava e o sol esquentava a prova foi se tornando cada vez
mais dura e cascuda. Numa estradinha de fazenda enfrentamos um subidão
muito íngreme e escorregadio, muitos bikers, nesse trecho, preferiram
empurrar as bikes. Teve certa hora que tivemos um descidão em trilha
, com direito a muitos buracos e pedras soltas. Esse a meu ver foi o
trecho mais emocionante, mas, por incrível que pareça, não tive medo
algum, soltei os freios e a bike disparou , eram muitos solavancos e
nessa altura eu já estava todo dolorido, eram dores na lombar, ameaças
de câimbra, meu pé doia muito e a cada solavanco da bike parecia que
eu levava um martelada nos dedos dos pés, os braços também estavam
doloridos.
Apesar dos perrengues mantive a força de vontade e
segui em frente, nessa altura do passeio a Alexa ,que eu tinha
intenção de seguir de perto, já havia sumido de vista e não havia a
mínima possibilidade de eu voltar a alcançá-la. Enfrentei ainda muitas
subidas cascudas e descidas pedregosas, cheias de buracos e valetas.
Num descidão pedregoso, eu não sei como, uma enorme pedra bateu na
ponta da sapatilha, doeu muito, muito mesmo.
Estava sendo dureza , mas apesar de tudo estava indo bem e com bom
fôlego, o que realmente estava acabando comigo eram as dores . A
perspectiva de terminar logo a prova fazia com que eu seguisse em
frente com muita garra e determinação, achava que faltava pouco (estou
sem ciclocomputador ), mas um paulista que estava perto de mim
esclareceu que ainda não estávamos nem na metade, e o pior , ou seja
a serra do palmital ainda estava por vir. Fiquei arrasado, pois
naquela altura dos acontecimentos a competição para mim estava se
tornando um suplício.
Finalmente cheguei na Serra do Palmital, meu Deus , que dureza, eu
subia, subia e subia e mesmo assim a subida parecia nunca ter fim,
foram horas intermináveis, parecia uma eternidade e sempre que chegava
no topo haviam outras subidas me aguardando. Sofri demais nesse
subidão, teve certa hora que quase amarelei, foi terrível, cansaço,
dores e sol quente estavam acabando comigo, por sorte o Christiano de
Volta Redonda passou por mim, me reconheceu e até tirou uma foto,
conversei com ele um pouquinho e isso foi bom pois me distraí e
esqueci momentâneamente dos perrengues, pouco tempo depois também
encontrei com o Gustavo, que por sinal também estava bastante
"derrubado", mas mesmo assim com muita garra e determinação seguia em
frente. É sério, eu estava mesmo tentado a desistir, pensava comigo
mesmo que tudo aquilo era uma loucura, o que eu estava fazendo ali
sofrendo feito um condenado em meio a imensidão das montanhas de Minas
Gerais, sendo que eu poderia estar em casa numa boa, mas por sorte
comecei a refletir e vi que todos ali estavam passando pelos mesmos
perrengues que eu e mesmo assim seguiam em frente (digo: subiam ),
também lembrei das palavras do Lance Armstrong: "A DOR É MOMENTÂNEA E
PASSAGEIRA...MAS O DESISTIR É PARA SEMPRE ". Pensando nisso, descartei
a possibilidade de desistir da prova, e segui em frente, ainda sofri
um bocado, mas felizmente ao longo da subida fui incentivado por
muitos ciclistas que passavam, eu agradecia a todos, mas respondia
apenas com acenos, com um sorriso (forçado ) ou gestos de
agradecimento, pois o cansaço era tão extremo e intenso que eu não
conseguiria falar e pedalar ao mesmo tempo. No meio do subidão me
deparei com uma linda cachoeira, com águas frescas, cristalinas e
extremamente convidativas bem ao lado da estrada, fiquei com muita
vontade de parar, descansar um pouco e tomar um banho, mas prontamente
, embora a contragosto, desisti dessa idéia, porque se eu parasse ali
com toda a certeza não conseguiria voltar a pedalar.
Felizmente a Serra do Palmital ficou para trás, mas apesar de já ter
enfrentado a serra, ao longo do caminho restante até Itanhandu ainda
enfrentamos muitas e muitas subidas, embora não tão longas e íngremes
quanto aquela. Em certo trecho vi uma placa dizendo que faltavam 15
kms , fiquei super feliz e me animei novamente, mas, os tais 15 kms
pareciam não ter fim, pedalava , pedalava e pedalava e eles estavam
lá do mesmo jeito, nunca terminavam. Parecia que os kms finais
estavam sempre" rendendo e aumentando", ao invés de diminuir (Será que
o "Km mineiro " é diferente do nosso ??? ). Naquela altura da
competição minhas energias estavam se esgotando rapidamente, até minha
água já havia se acabado, e para completar o sol estava de
rachar. Diante desse quadro desolador meu ânimo novamente se abateu,
já não aguentava mais, pedalar sob o sol escaldante estava sendo uma
tortura. Mas de repente, do nada , avistei ao longe em meio aos
inúmeros morros, a igreja de Itanhandú, essa visão foi um colírio
para meus olhos, um bálsamo para meu corpo dolorido e a partir daí
tirei forças não sei de onde e mandei ver, pedalei muito e com muita
determinação pois não via a hora de terminar tudo aquilo, andentrar a
reta final e ultrapassar a linha de chegada onde todos esses
perrengues e sofrimentos que eu estava passando finalmente teriam um
fim.
Foi tudo muito rápido, mal acreditei que havia chegado na cidade,
ultrapassei a linha de chegada onde recebi a minha tão merecida
medalha, após isso recebi uma latinha de coca cola geladinha...
huuummm.... que delícia .... essa foi a coca mais deliciosa que tomei
em toda minha vida. Me reuni aos amigos que já haviam chegado,
procurei uma sombra fresca e ali finalmente tive meu tão sonhado ,
aguardado e extremamente necessário descanço.
Apesar de ter sido hiper cascudo, eu gostei muito do big biker e como
bom ciclista que sou (ou será ciclo-masoquista ??? ) rapidamente (em
questão de segundos ), me esqueci de todos os perrengues que passei, e
pouco tempo depois já estava tomando tranquilamente meu banho de
ducha na praça ,e contando para os amigos, com riqueza de detalhes e
alegria, como foi tudo e até cogitando da possibilidade de participar
novamente no ano que vem. Realizei meu desejo e embora não tivesse
subido no pódio, estava muito feliz e me sentindo o número 1, gostei
de tudo e "saboreei" cada momento, embora muitos desses "momentos"
tivessem um sabor muito "amargo e desagradável". Parabéns aos
organizadores, gostei demais e já virei fã, se Deus quiser ,estarei de
novo no ano que vem.