A SENSAÇÃO DE FICAR
EM ÚLTIMO LUGAR
Em 2.001 perdi um irmão. Fumava demais. Eu também
fumava bastante, não tanto quanto ele. Ele faleceu em 20 de Abril de
2.001 e prometi a mim mesmo não fumar mais a partir do aniversário de
nascimento dele, ou seja, 33 dias após sua morte, 23 de Maio de 2.001.
Eram 01:30h da madrugada e eu fumei meu último cigarro, nunca mais
acendi um cigarro, nem por brincadeira. Desde então, incentivado pelo
meu filho, comecei a desenvolver interesse e gosto pelo ciclismo.
Minha primeira aventura foi um trajeto de 6 quilômetros de bike, não
acreditava como eu podia ter pedalado tanto.
Fui trocando de bike, trocando uma peça aqui outra
ali. Enfim, conforme era possível financeiramente. Era uma Caloi 100,
a melhor bike do mundo, me levava a lugares que eu nunca tinha ido,
descia trilhas, Itapeva, Santa, Zig-Zag e outras da região, sempre em
companhia de meu filho e amigos.
Bem, acabei me inscrevendo em provas de MTB, claro
sem a mínima pretensão de subir ao pódio, mas uma forma colocar á
prova minha condição de saúde. Atualmente tenho 61 anos, 91 quilos,
tomo minha cerveja diariamente. Costumo fazer cicloviagens, como o
Caminho da Fé e tantas outras.
Na prova Bigbiker em Itanhandú consegui ficar entre
os 10 últimos. (risos) Para mim, foi uma vitória e tanto, mais uma
medalha.
Mas na prova de Taubaté eu acabei ficando como
último colocado (geral). Aprendi tanta coisa!!! Dediquei meu esforço e
sacrifício dispendido nesta prova para que fossem revertidos em saúde
para um grande amigo que está na UTI há quase 1 mês, tendo amputado
uma perna. Puxa vida, um cara que gostava de pescar em Mato Grosso e
tinha muita vitalidade.
Quero continuar em último lugar sempre que for
possível. Junto comigo estava um ciclista da categoria Pró totalmente
exausto. Resolvi fazer companhia a ele, junto com o apoio de bike da
prova, o Staff Vivaldo grande amigo e incentivador naqueles momentos
de dor, sede, quando estamos no limite da exaustão. Quando faltavam 4
quilômetros para concluir a prova, fiquei aguardando sentado na beira
da estrada. Logo chegou o apoio, depois o caminhão "vassourinha" e a
ambulância.
Nosso amigo estava empurrando a bike na última
subida da prova. Quando chegou ao topo, todos aguardando, pedi que
descansasse um pouco e que terminaríamos a prova juntos. Ele
concordou. Não me preocupei em nenhum momento em identificá-lo, não me
preocupava a competitividade e sim a solidariedade presente naquele
momento. Quem fica por último passa pelo campo de batalha dos atletas,
ferramentas pelo chão, caramanholas, óculos, crianças pedindo
garrafinha, alguns atletas deitados com câimbras, etc ( Certamente uma
cena jamais vista pelos campeões).Então você começa a ver a
organização, pontos de água prontos para voltar a base, apoio de bike,
"vassourinha" e a ambulância, enfim, quanta gente preocupada com nossa
segurança. No entanto gostaria de fazer uma observação: Como é difícil
continuar pedalando com uma ambulância e um caminhão atrás de você!! O
participante fica literalmente sem moral para exigir qualquer coisa.
Sua motivação num momento decisivo e exaustivo desaparece. Se você
desistir, eles vão embora mais cedo, mas você não pode, o sacrifício é
sempre muito grande: só quem está pedalando sabe.
Tudo por uma medalha. Daqui a alguns anos, num
futuro não muito distante,será impossível correr em busca de uma
medalha. Vai minha sugestão: as viaturas têm que agir como "anjos da
guarda", sabemos que existem, mas não podemos vê-los.
Hoje sou eu a incentivar meu filho a pedalar.
Parabéns aos organizadores, colaboradores, atletas
e amigos que me proporcionaram um domingo diferente. E ao meu amigo
que está na UTI, ofereço a medalha que ganhei neste dia a você Bolão,
lutador e guerreiro nesta aventura que se chama vida.
José Celso de Azeredo Terclavers – numeral 1299
Bigbiker Taubaté 17/07/2011
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